Antes de a gente comecar eu tenho que admitir – a primeira vez que eu ouvi a palavra @Emicida, achei que era algo a ver com o Eminem.
Sério.
Ainda bem que eu estava errado.
Quando eu comecei a escrever, lá pelos idos de 1999 no Ensino Médio (ou Colegial), eu morava nos canfundós de São Paulo, em uma casa própria entre duas grandes comunidades próximas a Cotia e Osasco. Meu pai sempre conseguiu manter a gente em um bom nível social, e até acredito que eu tive certos privilégios sociais – mas eu nunca estudei inglês ou espanhol fora da escola, exceto quando comcei a trabalhar e resolvi pagar meu próprio curso.
O pior de tudo é que o trabalho era tão desgastante que ficou impossível manter o curso, eu dormia nas aulas e acabei desistindo pelo cansaço. Eu também consegui pagar um cursinho, para quem se lembra do curso comunitário APROVE e de um outro, criado por alunos da USP ali em 2001. Eu também desisti do curso, por que o Extra, onde eu trabalhava, me fazia dormir 5 horas por dia por causa de uma escala insana de entrada e saída de funcionários.
E olha que eles pensaram em me promover.
Durante todo esse tempo eu escrevi. Eu escrevi no ônibus indo para o trabalho, nas folhas de caderno da escola, nos simulados do cursinho, eu cheguei até a roubar uma bobina do caixa do Extra para ter papel para escrever e quase fui mandado embora por Justa Causa por isso, mas essa história não vem ao caso.
No fim eu sempre soube que: eu queria viver de escrita e ser reconhecido.
Só que ninguém me avisou, na época, que ser artista no Brasil é dar murro em ponta de peixeira… Se você for negro, quem segura a peixeira é o Lampião…
Foram anos e anos de luta e investimento, guerra, eventos literários, trânsito, gráficas atrasando, editores com pedidos malucos, leitores xingando e um mercado que, na minha visão comente suicídio a cada dia e ninguém percebe. Na verdade, eu meio que culpo o próprio mercado livreiro pela situação atual e eu cantei a bola lá atrás (em 207, mais ou menos) de que alguma hora a bolha literária ia explodir.
Ninguém me ouviu, a FENAC fechou…
Mas vamos voltar a falar de mim, depois eu falo da insanidade que eu considero ser o mercado livreiro brasileiro e de como ele vai afundar E levar uma boa parcela de editoras com ele. Me lembrem daqui um tempo de falar disso e de como o governo não vai MESMO mexer um dedo pra salvar esse povo.
No fim o que sobra pro autor nacional é se contentar com algumas poucas vendas, que talvez deem para pagar uma pizza ou uma conta de luz; mas a esmagadora maioria deles vai contar com números irrisórios de venda que tornam impossível você viver de escrita – exceto, claro, pelos poucos afortunados para cair nas graças do público ou para aparecerem em alguma novela da Globo – e olha lá, mesmo estes não conseguem se manter muito se forem autores de fantasia ou ficção.
Fato é que o Brasil é um país que não lê e se orgulha (muito) disso. Os poucos leitores que nós temos são esnobes e os leitores de fantasia e ficção se encaixam em uma minoria – que tem melhorado significativamente nos últimos anos, principalmente a geração Wattpad.
Me lembrem de falar bem e mal do Wattpad daqui uns 2 meses, sério.
Nós chegamos a um ponto crítico na história de livros do Brasil, por um lado temos uma avalanche de novos escritores nas redes sociais implorando para serem lidos; pelo outro lado não formamos e não temos leitores. A parte mais bizarra dessa conta é que tem MUITO autor por aí que se orgulha de NÃO LER NACIONAIS.
A piada está aí, pode rir.
Eu espero, pode rir. Primeiro vai ser o riso do ridículo, depois o riso do desespero. E depois a raiva.
Por mais insano que pareça, o governo brasileiro é um dos governos que mais investe em planos de leitura – apesar de, se você observar bem, estes planos NÃO CHEGAM na população. Pra mim é tudo um grande nariz de cera pra certos grupos ganharem dinheiro, mas se eu falo isso em um evento eu sou excluído da literatura nacional.
Então eu não vou falar que eu acredito friamente que planos de leitura são uma muleta desgraçada pro mercado nacional e que eles são a PIOR coisa que já se inventou pra apoiar a literatura, mas, na verdade, esses projetos MATAM a literatura e não permitem que libreiros e editoras aprendam a criar seu próprio mercado.
Ufa… Falei.
No fim das contas este post gigantesco era para falar que depois de muita luta eu finalmente consegui traduzir alguns dos meus projetos para inglês e espanhol e que você pode encontra-los nas livrarias de sua preferência nos links abaixo.
Em espanhol: LOBOS DE SANGRE – KOBO – Apple – Scribd – Barns & Nobles